domingo, 27 de outubro de 2013

Enquanto

Enquanto videiras crescem, uvas padecem de seu gosto acidulante.
Enquanto as virtudes perecem, gente nova traz seu ar estimulante.
Enquanto as paradisíacas planícies morrem, vida viceja no âmago.
Enquanto a caricatura dos homens resplandece, tudo fica mais tristonho.
Enquanto a iluminação surgia, 'arroboavam-se' os conhecimentos.
Enquanto comiam carne boa, cheiravam os excrementos.
Enquanto construíam palacetes, o rubor lhes cobriam a pele.
Enquanto beijavam os corpos, até que a morte se revele.
Enquanto caminhavam nas brumas, olhavam para o futuro com soberba.
Enquanto voavam nos céus, dotados de extrema nobreza.
Enquanto batiam em seus filhos, cruéis gritos de horror.
Enquanto sugavam-lhe as narinas, com todo ardor.
Enquanto sofriam por tudo, a fome apregoava seus irmãos.
Enquanto fustigavam-lhe o corpo, ainda existia ser e mente sãos.
Enquanto tomavam uísque em seus Campanários, a verdade havia sido dita.
Enquanto todos se esqueciam deles, surge a surpresa inaudita.

(Sérgio Carlos)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Decepção

Hoje eu acordei tão triste e nem tive coragem de chorar
Nas horas do frio inconsequente nada mais há
Do que o desamor de um afável gosto de sonhos
Pois o que existiu entre nós acabou tristonho
Não há como explicar a lascívia de tuas mãos
Ao tragarem para o desuso de meus sentimentos
Ostentas o desequilíbrio e enquanto possuis seu brilho presenteado
Tratas de apagar-te a chama até sobrar-lhe um bocado
As interrogações pairam sobre minha mente ao permitir
Que no final choro ao pensar que vou sorrir
Quando cogito esperar a esperança
Penso nas dores...oh! Terrível lembrança.
Enquanto a dor fustiga meu peito destemperado
Volto a sentir o vento, mesmo que mecânico, incansável.

Sérgio Carlos